Se você tem acompanhado as postagens anteriores, esse é o último referente a Terapia Cognitivo-Comportamental. Espero que gostem!
A partir do que foi levantado até o momento, ficará
mais fácil compreender como a TCC pode contribuir para a manutenção e para o
processo de emagrecimento do indivíduo. Relembrando que o comportamento é
influenciado pela cognição, cognição esta que pode ser modificada gerando assim
o comportamento desejado.
Na maioria das vezes, quando algumas pessoas têm dificuldades para
emagrecer ou ficam numa oscilação do peso, ocorre o que chamamos de pensamentos
disfuncionais ou sabotadores. Tais pensamentos dificultam na iniciação de algum
programa de emagrecimento ou até mesmo em manter os comportamentos adequados
para a manutenção do peso.
Um dos erros adotados pela maioria das pessoas é buscar formas de
emagrecer rígidas demais, visando um resultado imediato e/ou muito diferentes
do que já estão habituados a fazer em seu dia-a-dia, e o pior, não estando
preparados para isso. Na maioria das vezes acabam fracassando e os pensamentos
que estão associados ao fracasso são do tipo: “sou muito preguiçosa (o)”, “não
tem jeito, sempre serei assim!”, “minha família é toda obesa, por isso sou
gorda (o)”, “mudar é muito difícil”, “é a genética”, etc. Estes pensamentos
acabam gerando sentimentos de impotência, desesperança e outros igualmente
desagradáveis.
Dessa forma, Beck (2009) orienta que antes de buscar uma dieta, seria
importante que a pessoa aprendesse a pensar funcionalmente de forma a manter um
comportamento adaptativo em relação a sua meta. Tal aprendizado visa ampliar o
repertório de habilidades para que a reeducação alimentar seja satisfatória. A
partir do momento em que as técnicas são ensinadas, a pessoa pode começar a
emagrecer antes mesmo de iniciar uma reeducação alimentar, pois é a partir
desse aprendizado que a pessoa aprende a lidar com as dificuldades que ocorrem durante
o processo.
Mas saber apenas as técnicas não é o suficiente. É preciso também saber como colocar em ação, saber
como o emocional interfere no processo e principalmente, ter consciência que
cada um tem um processo de emagrecimento singular. De acordo com Ferreira (2009,
p.25)
“Aceitar seu estado de obesidade é o primeiro
passo. Saiba que aceitar não significa gostar de estar com sobrepeso, e sim
reconhecer e respeitar o fato. Sem aceitação não há mudança, porque não há
reconhecimento do que necessita ser mudado”.
De acordo com Beck (2009), um estudo feito na Suécia, demonstrou a
eficácia da TCC em indivíduos que tinham como foco o emagrecimento. A conclusão
do estudo foi que 92% das pessoas que passaram pelo programa conseguiram manter
o peso e também reduziram ainda mais o peso após um ano e meio de tratamento.
Já outros estudos revelaram que a maioria das pessoas que não passaram por um
acompanhamento baseado na TCC voltou a recuperar a maior parte do peso
eliminado.
Vale salientar que o pensamento pode influenciar na mudança de hábitos
voltados para o emagrecimento de variadas formas. Quando uma pessoa inicia um
processo de emagrecimento, ela não percebe, mas diversos pensamentos invadem
sua mente. E como assinala Ferreira (2009, p.41) “quem deseja manter-se magro precisa
emagrecer seu pensamento e sua alimentação de forma permanente.” Sendo assim,
veja no quadro abaixo alguns dos pensamentos disfuncionais que dificultam no
processo de emagrecimento.
Tipos de pensamentos
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Características
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Exemplos
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Permissivo
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Acompanhado de justificativas “mas...”.
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“Sei que para eu
emagrecer preciso praticar atividade física, mas hoje estou tão cansada...”.
“Sei que não
deveria optar por um rodízio, mas se trata de uma comemoração...”.
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Negativo
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Acompanhado do erro cognitivo - catastrofização
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“Acabei comendo
mais do que eu deveria... Sou um fracasso mesmo! Não adianta... Não vou
conseguir...”.
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Autorização
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Desconsidera alguma ou todas as propostas do programa
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“Não tenho que
ler os cartões de enfrentamento, sei exatamente do que preciso para mudar.”
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Estressores
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Estão associados à busca pela perfeição e com isso, criam metas
irreais.
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“Não posso
errar!”, “Tenho que fazer tudo perfeito”.
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Quadro 1 – Tipos de pensamentos
O trabalho com esses tipos de pensamentos ocorrem através da
reestruturação do pensamento. Dessa forma, o indivíduo aprenderá a pensar de
maneira funcional e a lidar com as emoções conflituosas, ficando cada vez mais
habilitado a resolver problemas e focando no que é mais saudável no momento. Essa
mudança também acaba influenciando em seus comportamentos, pois tal aprendizagem
torna o processo de emagrecimento bem mais fácil.
De acordo com Beck (2009), pessoas magras pensam de forma diferente de
pessoas que tem dificuldade em manter ou que tem excesso de peso, com isso,
fica nítido a necessidade de modificar o pensamento visando uma mudança no
comportamento alimentar.
Outro fator importante a ser considerado é que o ato de comer vem sempre
acompanhado de um estímulo. A partir do momento em que se percebem os
estímulos, é possível aprender a reconhecê-los e a lidar positivamente com
eles. Estimulo esse que pode ser:
- Estímulos ambientais: visão e o cheiro do alimento;
- Estímulos biológicos: fome e sede;
- Estímulos emocionais: a partir de sentimentos considerados desagradáveis o indivíduo busca o
alimento como forma de alivio.
- Estímulos mentais: as imagens mentais sobre o ato de comer, ou focar a atenção em
receitas, imagens de comida, etc.
- Estímulos sociais: pessoas que incentivam a comer ou o fato de querer comer como a
maioria.
Segundo Beck (2009, p.37) a cadeia de eventos que leva ao ato de
comer, ocorre da seguinte forma:
A pessoa encontra um estímulo, tem um
pensamento, toma uma decisão e logo age.
Muitas vezes o professor interno pode aparecer entre o pensamento e o
comportamento, e esse debate entre o pensamento disfuncional e o pensamento
funcional gera um gasto de energia que pode ser aliviado com a decisão de
comer. Mas como Beck (2009, p. 38) aponta, "Da mesma forma que a decisão
de comer pode reduzir a tensão, a decisão de não comer também pode".
Afinal o alivio ocorre antes de o alimento ser ingerido, pelo menos é assim que
nosso cérebro funciona, ele registra o pensamento.
Um dos pontos trabalhados no programa de emagrecimento é a
psicoeducacao, mostrando a importância de planejar a alimentação, aprender a
resistir aos desejos por comida, melhorar ou modificar os hábitos alimentares,
perceber a importância de atividade física. Ter um diário de bordo também é
importante para que seus pensamentos e sentimentos sejam registrados. Além disso,
pode ser um espaço para anotar e responder os pensamentos disfuncionais.
Dessa forma, percebe-se a
importância em incorporar algumas mudanças para que o programa tenha o sucesso
esperado. Entre essas mudanças, podemos citar a forma de alimentar-se. É
importante sentar-se para realizar as refeições. Além disso, é importante comer
calmamente, saboreando o alimento, sem prestar atenção a outros estímulos, como
comer falando ao telefone, ou na frente do computador, na frente da tv, etc.
Além de trabalhar a reestruturação do pensamento, outras habilidades
também são necessárias para que o processo de emagrecimento seja eficaz. São
elas:
- Saber diferenciar a fome da vontade
de comer;
- Saber o quanto é necessário para
saciar a fome;
- Não buscar na comida uma forma de
conforto, que acaba gerando autocrítica e abala a autoconfiança.
- Perceber como terrível o fato de
engordar.
- Ter atitude proativa, afinal uma
pessoa magra não come bombas calóricas ou vivem para comer. Já uma em processo
de emagrecimento pode ter uma atitude reativa, focando na injustiça e se colocando
como vítima.
- Ter consciência que uma reeducação
alimentar é para sempre. Apesar de o processo ser lento, as chances de manter
são muito maiores.
Algumas técnicas auxiliarão no processo de emagrecimento. A primeira
delas são os cartões de enfrentamento, que são cartões em brancos comprados em
papelaria, no qual, recomenda-se escrever neles frases motivadoras mostrando as
vantagens de emagrecer. Sempre colocando em ordem de importância. Para que o
cérebro possa registrar estas frases, é necessário que sejam lidos duas vezes
por dia. Não apenas fazer uma leitura, mas uma reflexão de todas as vantagens.
E durante o programa é importante que outros cartões sejam criados para que
haja cada vez mais uma maior implicação ao processo de emagrecimento (BECK,
2009).
E para colaborar na mudança por hábitos saudáveis, além da
reestruturação dos pensamentos, é essencial que o ambiente também seja propicio
para o processo de emagrecimento. Tirar os alimentos calóricos da frente é
fundamental, cuidar dos estímulos ambientais ajuda muito. Trocar pratos e
talheres grandes por pratos menores e optar por alimentos mais saudáveis.
Durante o processo, a pessoa aprende a reconhecer suas próprias
qualidades. Que é fundamental para combater o lado critico, pois em vez de
focar no que fez de errado, aprender a ver o que fez de certo faz toda a
diferença. Isso facilita a lidar positivamente com possíveis deslizes.
Parece que quando o desejo é emagrecer varias situações ocorrem e
desistir do emagrecimento é o mais fácil. Para solucionar essa questão, além de
trabalhar os pensamentos disfuncionais, é importante eleger um
"técnico". Esse técnico terá a função de ajudar nós momentos de crise
e também nós momentos de realizações. Esse técnico pode ser um amigo, um parente
ou mesmo um profissional (BECK, 2009).
Além de trabalhar o olhar sobre a comida e o ato de comer, é preciso ter
consciência que a atividade física é essencial para alcançar a meta e como
consequência tem inúmeros benefícios:
- Melhor aderência à dieta;
- Controla melhor o apetite;
- Alivia o estresse e melhora a
disposição;
- Queima calorias;
- Preserva o tecido muscular;
- Promove a autoconfiança;
- Promove um bem estar físico e mental;
- Melhora a saúde e evita doenças.
Cada vez fica mais claro que o processo de emagrecimento não se trata
apenas de fechar a boca e fazer alguma atividade física. O emagrecimento é um
processo lento, não acontece do dia para a noite, mas a partir do momento em
que se inicia, traz grandes benefícios em várias áreas da vida.
Espero que tenham gostado! Até a próxima... ;)