No texto anterior, abordei o olhar sobre o corpo e sobre a alimentação. Neste texto, o objetivo é informar como surgiu a terapia cognitivo-comportamental e como esta pode auxiliar não só no que se refere ao emagrecimento, como também em variadas questões.
O olhar sobre a cognição nasceu a partir do questionamento existente a respeito de como a psicanálise e a abordagem comportamental lidavam com o problema da depressão. Na década de 60, tais questionamentos fizeram que alguns profissionais dessas abordagens buscassem nos processos cognitivos a explicação para os transtornos psicológicos. Nessa mesma década, Aaron Beck, ainda psicanalista, conduziu experimentos e observações clínicas, na qual se pensava na depressão como sendo uma raiva voltada para dentro. De acordo com Beck, os sonhos estavam associados à depressão, porém percebeu que os mesmos conteúdos presentes nos sonhos, estavam também presentes nos pensamentos dos pacientes. Tal conteúdo era sempre ligado à autocrítica, pessimismo e negatividade. Esta descoberta foi de grande importância para o surgimento da Terapia Cognitiva (PADESKY, 2010).
O olhar sobre a cognição nasceu a partir do questionamento existente a respeito de como a psicanálise e a abordagem comportamental lidavam com o problema da depressão. Na década de 60, tais questionamentos fizeram que alguns profissionais dessas abordagens buscassem nos processos cognitivos a explicação para os transtornos psicológicos. Nessa mesma década, Aaron Beck, ainda psicanalista, conduziu experimentos e observações clínicas, na qual se pensava na depressão como sendo uma raiva voltada para dentro. De acordo com Beck, os sonhos estavam associados à depressão, porém percebeu que os mesmos conteúdos presentes nos sonhos, estavam também presentes nos pensamentos dos pacientes. Tal conteúdo era sempre ligado à autocrítica, pessimismo e negatividade. Esta descoberta foi de grande importância para o surgimento da Terapia Cognitiva (PADESKY, 2010).
A partir daí, Beck
passou a associar a depressão a padrões negativos de pensamento, levando ele a
criar o Beck Depression Inventory
(Inventário de Depressão de Beck – BDI), sendo este aperfeiçoado ao longo do
tempo, passando a apontar também mudanças na motivação e no funcionamento
físico. Além disso, é considerada a escala mais usada para mensurar a depressão
(PADESKY, 2010).
Com isso, a
Terapia Cognitiva (TC) foi cada vez mais se desenvolvendo e conquistando espaço no
meio acadêmico. Segundo Knapp (2004), a Terapia Cognitivo Comportamental envolve
mais de vinte abordagens terapêuticas, mas independente das diferenças que
possam ocorrer, existem características comuns entre elas:
- Estão
ligadas ao fato de considerar o comportamento como sendo influenciado pela
cognição;
- Que
a cognição pode ser monitorada e modificada;
- Que
o comportamento desejado pode ser conseguido a partir da mudança de pensamento.
A TCC de Beck,
inicialmente foi desenvolvida para o tratamento da depressão e atualmente pode
ser aplicada em uma série de outros transtornos e/ou áreas. O foco do trabalho
terapêutico está em identificar e reparar padrões de pensamentos disfuncionais
por meio do levantamento de hipóteses que serão confirmadas ou não ao longo do
processo. Segundo TEIXEIRA (2004, p.302) “As origens dessas distorções vêm de
erros decorrentes da organização cognitiva individual que as pessoas
desenvolvem ao longo do curso da vida.” Dessa forma, a terapia cognitiva está
pautada na relação entre pensamento, emoção e comportamento, levando em
consideração que não é a situação ocorrida que ativa os sentimentos, mas sim o
que pensamos acerca da situação. Quando tais pensamentos são disfuncionais, suscitam
sentimentos considerados negativos, podendo ocorrer dificuldade na adaptação do
individuo em seu meio.
Burns (1989 apud Knapp, 2004, p.20) “Nós sentimos o que pensamos” e por mais simples que pareça, não é bem assim. Freeman et al (1990 apud Knapp (2004, p.20) ressalta o seguinte:
Burns (1989 apud Knapp, 2004, p.20) “Nós sentimos o que pensamos” e por mais simples que pareça, não é bem assim. Freeman et al (1990 apud Knapp (2004, p.20) ressalta o seguinte:
“Mas a TC não é
um modelo linear em que “as situações ativam pensamentos, que geram uma
consequência com resposta emocional, comportamental e física”. Há uma interação
recíproca de pensamentos, sentimentos, comportamentos, fisiologia e ambiente. É
reconhecido que as emoções podem influenciar os processos cognitivos e que os
comportamentos também podem influenciar a avaliação de uma situação pela
modificação da própria situação ou por evocar respostas de outras pessoas”.
Na terapia
cognitiva, quando se fala em cognição, é necessário apontar que identificamos e
trabalhamos com três níveis de cognição. São eles:
- Pensamentos
automáticos;
- Pressupostos
subjacentes ou crenças intermediárias;
- Crenças
nucleares ou centrais.
De acordo com a figura abaixo proposta por Knapp
(2004), é possível perceber como são organizados os níveis de cognição. Os
pensamentos automáticos estão ligados às crenças intermediárias que por sua vez
estão ligadas as crenças nucleares ou centrais.
Os pensamentos
automáticos como o próprio nome já diz, são os pensamentos que vem
automaticamente à mente, de maneira rápida e que muitas vezes não são percebidos
por quem os tem. Quando tais pensamentos são disfuncionais, eles atuam em cima
das emoções e do comportamento do indivíduo, podendo vir em forma de
pensamentos ou também em forma de imagens. Os pensamentos automáticos podem
ocorrer através de situações internas, como por exemplo, um enjoo, ou externas,
como por exemplo, alguém não retribuir uma saudação. Segundo Beck, “você pode
aprender, no entanto, a identificar seus pensamentos automáticos prestando
atenção às suas mudanças de afeto” (1997, p.30).
Os pensamentos
automáticos podem ser de três tipos: Beck (1995 apud Knapp (2004, p.25)
1. Distorcidos, ocorrendo apesar das evidencias em contrário.
Ex.: “Se me separar, nunca mais serei feliz”.
2. Acurados, mas com a conclusão distorcida.
Ex.: “Meu filho não me telefonou até agora, deve estar incomodado comigo”.
3. Acurados, mas totalmente disfuncionais.
Ex.: “Com essa lesão articular, a vida perdeu a graça, pois nunca mais poderei jogar tênis”.
1. Distorcidos, ocorrendo apesar das evidencias em contrário.
Ex.: “Se me separar, nunca mais serei feliz”.
2. Acurados, mas com a conclusão distorcida.
Ex.: “Meu filho não me telefonou até agora, deve estar incomodado comigo”.
3. Acurados, mas totalmente disfuncionais.
Ex.: “Com essa lesão articular, a vida perdeu a graça, pois nunca mais poderei jogar tênis”.
Os pressupostos
subjacentes ou crenças intermediárias como também são conhecidos influenciam os
pensamentos automáticos e são influenciados pelas crenças centrais. Referem-se a
padrões, atitudes, normas e regras impostas pelo individuo em situações vividas
no dia a dia e estão sempre associadas a uma condição, que sendo seguida á
risca, transcorre tudo maravilhosamente bem. O não cumprimento dessas crenças
intermediárias pode ocasionar na ativação das crenças centrais negativas (KNAPP,
2004).
Segundo Beck (1997,
p.32), “Em uma situação específica, as crenças subjacentes da pessoa
influenciam sua percepção, que é expressa por pensamentos automáticos
específicos à situação. Esses pensamentos, por sua vez, influenciam as emoções
da pessoa”.
Exemplificando, vamos
supor que uma pessoa tenha uma crença central de fracasso (falaremos sobre
crenças centrais mais a frente) e tenha uma crença intermediária do tipo “tenho que ser o melhor em tudo que
faço”. Percebem que existe uma condição? Caso ele não seja o melhor, sua crença
central poderá ser ativada, ou seja, ele se achará um fracassado.
As crenças nucleares ou
crenças centrais são formas de cognição mais internalizadas, consideradas
verdades absolutas, percebidas de maneira rígida e generalizada pelo individuo,
pois estão relacionadas às construções adquiridas na infância sobre a própria
pessoa, o outro e sobre o mundo. Tais construções são fortalecidas ao longo dos
anos, no qual servem de modelo para a interpretação de eventos ocorridos,
formando o jeito psicológico de ser de cada um.
Beck (1995 apud Knapp, 2004, p.23) apresenta três
agrupamentos de crenças disfuncionais:
1. Crenças nucleares de desamparo
(crenças sobre ser impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado,
necessitado).
2. Crenças nucleares de desamor (crenças
sobre ser indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, sem
atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado, sozinho).
3. Crenças nucleares de desvalor (Crenças
sobre ser incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho, defeituoso,
enganador, fracassado, sem valor).
Associado as crenças centrais estão
os esquemas. A diferença entre eles é
que as crenças centrais são o conteúdo e
os esquemas são as estruturas. Segundo Beck (1964,1967 apud Knapp, 2004, p.23)
“Esquemas são
estruturas internas de relativa durabilidade que armazenam aspectos genéricos
ou prototípicos de estímulos, idéias ou experiências, e também organizam
informações novas para que tenham significado, determinando como os fenômenos
são percebidos e conceitualizados.”
Os
esquemas primitivos mal adaptativos também são construídos a partir de
interações disfuncionais com pessoas importantes na vida inicial do indivíduo.
Os esquemas são compostos de cognições, memórias e sensações corporais
vivenciadas pelo individuo e por sua interação com o outro, que servem como
molde para o processamento de experiências.
Tais esquemas são considerados
verdades absolutas, difíceis de modificar sem o trabalho terapêutico, estando
também associados a um grande nível de afeto quando ativados (raiva, ansiedade,
culpa ou tristeza), o que facilita a visualização do esquema, possibilitando o
confronto e a modificação do mesmo (YOUNG, 2003)
Estes esquemas são
desencadeados quando existe alguma mudança negativa na vida do indivíduo. Além
disso, são autoperpetuáveis, ou seja, para que se mantenham, já que são
resistentes à mudança, recorrem a três formas de atuação visando o reforçamento
do esquema. Segundo Young (2003) e Knapp (2004) os processos de um esquema são:
- Manutenção
do esquema: são utilizados o pensamento e o comportamento de forma a reforçarem
o esquema. Age de acordo com uma profecia auto realizadora, pois o indivíduo
atua de maneira a fazer que o esquema se mantenha. Além disso, algumas
distorções cognitivas estão presentes, entre elas estão: maximização,
minimização, abstração seletiva e generalização.
- Evitação
do esquema: como o próprio nome já diz, o indivíduo busca evitar que o esquema
seja ativado. Pode ocorrer através da evitação cognitiva, no qual o indivíduo
bloqueia pensamentos ou imagens referentes ao esquema. Na evitação afetiva, o
indivíduo bloqueia os sentimentos, sendo muito comum relatarem não sentir nada
em situações que gerariam emoções na maioria das pessoas e por fim, a evitação
comportamental que está associada ao fato do individuo evitar situações que
possam desencadear o esquema.
- Compensação
do esquema: Atuam tanto de forma cognitiva quanto comportamental e acabam
atuando no polo oposto ao esquema. Por exemplo, se a pessoa tem um esquema de
desconfiança, acaba confiando em todos. Muitas vezes é considerado de forma
funcional, pois o individuo atua de maneira a atender as necessidades, porém
acaba não dando certo, pois tudo precisa de um equilíbrio, que está ausente
neste processo.
Como
podemos ver, a TCC é uma abordagem terapêutica diretiva e semiestruturada que
visa à resolução de problemas. Tanto terapeuta quanto cliente tem um papel
ativo no desenvolvimento da terapia, estabelecendo metas e tarefas entre as
sessões. O cliente aprende a ser seu próprio terapeuta, através do aprendizado
adquirido no decorrer das sessões e também através do feedback presente na relação
terapêutica, possibilitando assim, uma melhor resposta futura frente a
adversidades que surjam. Durante o
processo terapêutico, o cliente aprende através de técnicas específicas a
identificar seus pensamentos e crenças disfuncionais buscando alternativas mais
adaptáveis para sua vida.
Referente
ao tempo de tratamento existe uma variação, Nos estudos feitos por Beck (1976,
Abreu, 2004, p.284), a proposta seria de quatro a quatorze sessões semanais.
Neste mesmo estudo, foi apontado que alguns clientes podem levar de 1 a 2 anos
para modificar suas crenças e comportamentos disfuncionais. Em outro estudo
realizado por Beck e Freeman (1993, Abreu, 2004, p.284) apontam que a melhora
dos sintomas está associada à motivação do cliente e da possibilidade de
resolução do problema.
Apesar de parecer uma abordagem simples, existem vários detalhes que devem ser levados em consideração. No texto a seguir veremos mais informações sobre a Terapia cognitivo-comportamental. Espero que tenham gostado até aqui. :)
Referências bibliográficas
PADESKY, Christine A. Aaron Beck – A mente, o
homem e o mentor. Organizadores: LEAHY, Robert L et al. Terapia cognitiva
contemporânea: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed, 2010. p.19
KNAPP, Paulo. Princípios fundamentais da
terapia cognitiva. Organizadores: KNAPP, Paulo et al. Terapia
cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004,
p.19.
YOUNG, Jeffrey E. Terapia cognitiva para
transtornos da personalidade – uma abordagem focada no esquema. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
BECK, Judith S. Terapia cognitiva – teoria e
prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
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