terça-feira, 25 de junho de 2013

Que corpo é esse?


Venho estudando sobre o tema emagrecimento e gostaria de compartilhar com todos os interessados um pouco do meu trabalho. Ao longo das semanas, postarei a continuação desse trabalho. Espero que gostem!
Esse texto tem como objetivo levantar uma reflexão sobre o corpo numa perspectiva histórica, visando compreender sua construção em relação ao emagrecimento até os dias atuais. 
Dessa forma, é importante ressaltar que o corpo foi inventado no século XX, a partir das observações feitas por Freud nos corpos exibidos por Charcot em Salpêtrière; A partir disso, viriam estudos sobre o inconsciente e como este se comunica através do corpo, em seguida viriam estudos sobre as somatizações; este último, levando a compreender o corpo como parte de sua formação enquanto sujeito. Cabe salientar que antes do século XX, o corpo era visto com um pedaço de matéria, ou seja, parte de uma engrenagem. (COURTINE, 2006)
A partir do século XX a saúde passou a ser percebida como sendo um direito do homem. Saúde esta, que coloca a medicina como sendo essencial à vida das pessoas, e o corpo passa ser a forma de demonstrar essa saúde. Segundo Moulin (2006, p.15):

A assim chamada medicina ocidental tornou-se não apenas o principal recurso em caso de doenças, mas um guia de vida concorrente das tradicionais direções da consciência. Ela promulga regras de comportamentos, censura os prazeres, aprisiona o cotidiano em uma rede de recomendações.

No período conhecido como Belle Époque, que compreende o final do século XIX e inicio do século XX, o pudor corporal vai dando indícios de seu fim. Antes as pernas não podiam ser mostradas e o corpo precisava ser escondido até no momento de fazer amor com o intuito de “não despertar pensamentos pecaminosos em relação à moral religiosa”. O corpo antes proibido de ser mostrado vai se revelando através da moda e do turismo. Inicialmente os maios eram inteiros e escuros, depois passam a ser claros e com listras, sempre com a intenção de esconder os corpos. A partir de 1930 as roupas de banho vão diminuindo. As mulheres passam a usar vestidos mais curtos e o espartilho dá lugar ao sutiã. Nesta mesma época a sexualidade antes apenas sugerida, passa a fazer parte dos filmes e cartazes.
Todas essas mudanças no guarda-roupa tiveram um reflexo na vida das pessoas. Segundo SOHN (2006, p.111-112)

Desde então, com efeito, que homens e mulheres não podem mais trapacear com o corpo, os cânones da beleza física se mostram muito exigentes. A partir da Belle Époque, o modelo do homem e mulher magros e longilíneos predomina. Com a nudez do verão, é necessário ainda por cima exibir músculos firmes. O recuo do pudor implica assim um novo trabalho sobre o corpo entre musculação e dietética incipiente. Mas é só depois, da década de 1960, que o regime passa a ser uma preocupação unanimemente compartilhada (...).

            É também a partir de 1930 que as cirurgias estéticas vão sendo procurada pelas mulheres e a musculação pelos homens. Na segunda metade do século XX é lançado o biquine, considerado um escândalo e um pouco mais tarde, 1964, as mulheres passam a tirar a parte de cima do biquine em nome da liberdade corporal.
            No que se refere à alimentação, esse discurso sempre fez parte da vida das pessoas, mas é a partir do século XX que ele toma a forma de prevenção, visando um indivíduo saudável. Por volta da segunda metade do século XX nasce um novo discurso dietético, no qual se faz necessário um profissional formado para essa prática. Inicialmente é a médica dieteticista, grupo este, formado em sua maioria por mulheres e que mais tarde passa a fazer parte das práticas sociais, formado por médicos especializados como “nutricionistas”. Essa área trabalha de maneira autônoma, oferecendo resultados rápidos e sem a ligação com o sistema médico. Ory (2006) destaca que:

Essa preocupação crescente das sociedades desenvolvidas, tendendo em certos indivíduos à ansiedade, ou até à obsessão, ainda mais quando combinada com o diagnóstico complexo, e de difícil tratamento, da anorexia, alimenta, logo, uma vulgata dietética sempre mais difundida e, em função dos avanços do conhecimento biológico, sempre mais sofisticados, como o comprova a passagem da temática da “celulite” à do “colesterol”, depois à distinção entre colesterol “bom” e “mau”, etc. (2006, p.164)

            Com as mudanças ocorridas nos campos cultural e econômico, os corpos passam a apresentar um modelo de saúde estando esguios facilmente encontrados na classe dominante e na classe média. Além disso, outro ponto a destacar é a mudança ocorrida no setor do trabalho, no qual a necessidade de esforço físico vai diminuindo a cada dia, provocando um aumento na obesidade. “O sobrepeso vai se tornar, na aurora do século XXI, uma preocupação ao mesmo tempo da “autoimagem” individual bem como de saúde pública (...)” (ORY, 2006, p.164).
            O saber dietético acaba se ampliando devido às revistas femininas e também ao modelo de magreza trazida pela boneca Barbie desenvolvida pela empresa Mattel. Concomitante a isso, na década de 60 a modelo Twiggy se torna ícone de beleza, deixando para traz os corpos curvilíneos da década de 50 representados pelas pin-up. O discurso do corpo esguio é apoiado pelos médicos como sinônimo de saúde, provocando um aumento de pacientes, tanto homens quanto mulheres para a melhora de sua forma física. (ORY, 2006)

            A seguir abordaremos a relação que o corpo tem com a comida, a partir do viés histórico do ato de se alimentar. (CONTINUA...)

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