terça-feira, 12 de julho de 2011

A arrumação

Alguém mora numa casa pequena e, no correr dos anos, vai juntando muitos trastes nos cômodos. Muitos hóspedes trouxeram objetos e, quando se foram, deixaram as malas. É como se ainda estivessem aqui, embora tenham partido há muito tempo, e para sempre.
Também o que o próprio dono ajuntou permanece dentro de casa. É como se nada tivesse passado nem se perdido. Mesmo às coisas quebradas se apega a lembrança. E assim elas ficam e tiram o espaço para coisas melhores.
Só quando o proprietário está quase sufocando é que ele dá início à arrumação. Começa pelos livros. Será que ele vai querer contemplar eternamente as mesmas velhas imagens e tentar entender doutrinas e histórias alheias? Assim, remove o que havia muito tempo estava liquidado, e os cômodos ficam amplos e claros.
Então abre as malas alheias e examina se ainda encontra algo utilizável. Aí descobre algumas preciosidades e as coloca à parte. O resto ele carrega para fora.
Joga as velharias numa cova profunda . Cobre-a cuidadosamente com terra e depois planta grama por cima.
Existem histórias que são cercas. Elas comprimem e isolam. Quando nos acomodamos, elas nos proporcionam segurança. Mas quando queremos ir em frente, bloqueiam o nosso caminho. Histórias desse tipo nós próprios nos contamos, às vezes, e a chamamos de recordações. Porém muitas vezes nos contamos o que na época foi mau e nos feriu, mas não o que também nos libera. Então a lembrança se torna uma amarra, e a nossa liberdade de movimento fica reduzida.

(Bert Hellinger)

Recebi esse texto numa palestra vivencial coordenada pelo psicólogo Daniel Sá sobre "Ressignificando histórias: como transformar seu impasse em solução." e gostaria de compartilhar aqui.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Análise Transacional

A análise transacional (AT) surgiu nos anos 50 fundada por Eric Berne, numa época em que o mundo passava por grandes mudanças conceituais e tecnológicas, muitas delas ainda reflexo da Segunda Guerra Mundial. Como em outras linhas teóricas, a Análise Transacional vem de uma força da época chamada psicologia humanista, que tinha a preocupação de rever conceitos anteriores da psicologia, no qual se encontravam a psicanálise e o comportamentalismo como principais abordagens, que apenas compreendiam o sujeito como produto do meio familiar e social, sem valorizar a responsabilidade, autonomia e escolha do sujeito. (Ginger; Ginger, 1995)

Ao definir a análise transacional, Berne (2007) coloca que:

“A análise transacional é uma teoria da personalidade e de ação social e um método clínico de psicoterapia, baseado na análise de todas as possíveis transações entre duas ou mais pessoas, com base em estados de ego especificamente definidos, num número finito de tipos estabelecidos.” (p.32)

O principal interesse da AT é estudar os estados de ego, que para Berne “(...) são sistemas coerentes de pensamento e sentimento manifestados por padrões de comportamento correspondentes” (Berne, 2007:25).

Esses estados de ego são representados pelo Pai (construído durante a formação da criança sendo, portanto uma contribuição das figuras parentais), Adulto (estado desenvolvido a partir das próprias experiências e das de outrem que são utilizadas para refletir sobre o “real”, colocando o “racional” em evidência) e Criança (estado que evidencia a tomada de decisões baseada nas próprias percepções, emoções e no comportamento do outro – imitação – sem, contudo ser essa conduta uma desqualificação para seu comportamento).

“Aqui o ego é entendido de maneira como é definido pela teoria psicanalítica. Não deve, entretanto, ser confundido com Ego, Superego e Id. Os estados de ego são modos de atividades do ego, cada um deles adaptado de forma única aos diferentes tipos de situações.” (STEINER, 1968:61)

Ao falar de AT, é importante abordar a teoria dos scripts e os jogos. A teoria dos scripts faz parte desde o início do surgimento da teoria da AT, quando Berne ainda se utilizava dos métodos psicanalíticos em seu trabalho clínico individual, fazendo uso do divã. Berne acreditava que os scripts eram repetições compulsivas e percebeu que o trabalho em grupo seria mais válido ao facilitar a descoberta de novas informações sobre esses scripts. Sua análise visava reviver novas situações na vida da pessoa, possibilitando sua autonomia. (Steiner, 1976)

De acordo com Berne,

“Toda pessoa possui um plano de vida pré-consciente ou script, através do qual estrutura planos mais longos de tempo – meses, anos ou toda uma vida, preenchendo-os com atividades, rituais, passatempos e jogos que levam adiante o seu script, dando-lhe satisfação imediata comumente interrompida por períodos de isolamento e, às vezes, episódios de intimidade.” (2007:36)

E para falar dos jogos, é importante ressaltar que este ocorre nas relações ou, como visto na AT, nas transações, que podem ser divididas em complementares, cruzadas e ulteriores. Essas transações ocorrem na comunicação feita de um estado de ego para outro ou outros.

Na transação complementar, a comunicação ocorre de forma paralela, ou seja, de/para: Pai/Pai, Adulto/Adulto ou Criança/Criança. Na transação cruzada, ocorre uma falha na comunicação, no qual um dos sujeitos, de repente muda do estado de ego que está para outro. Já na transação ulterior, a comunicação não fica clara para o Adulto. Quando algo é dito, pode haver outros significados por trás do que foi falado. (Goulding; Goulding: 1991)

Os jogos são uma série de transações complementares e ulteriores, que vão sendo incorporadas na infância. Desde cedo, a criança tem contato com os jogos feitos na família de origem e segundo Berne,

"Um jogo é uma série de transações complementares que se desenrolam até um desfecho definido e previsível. Pode ser descrito como um conjunto repetido de transações, não raro enfadonhas, embora plausíveis e com uma motivação oculta." (BERNE, 1977:49)

Esses jogos envolvem uma isca e ocorrem repetidamente com um desfecho pré determinado, no qual a pessoa faz uma coisa, quando na realidade quer fazer outra. De acordo com Berne (2007:35) “Esta só funciona, (...) se houver uma fragilidade na qual possa enganchar, (...) como medo, a ganância, o sentimentalismo ou a irritabilidade.”

Análise Transacional, como uma técnica psicoterápica, tem algumas características que se debruçam sobre linguagem, responsabilidade e conceitos como: Permissão, Proteção e Potência.

A AT estabelece como princípio de trabalho a utilização de uma linguagem compreensível e acessível às pessoas. Acredita que dessa maneira, possibilitando o acesso do paciente a todos os aspectos do pensamento do terapeuta relacionado com o tratamento, permitirá que as modificações de comportamento do paciente possam ocorrer de forma mais eficaz. (STEINER, 1968)

Na Análise Transacional o paciente ocupa um lugar de responsabilidade em razão desta técnica entender que as ações tomadas pelo sujeito são oriundas de suas próprias decisões, o que lhe faculta as rédeas de sua vida e consequentemente a responsabilidade de seus eventuais distúrbios. Nessa relação terapêutica, estabelecida entre paciente e terapeuta, este último também é visto como alguém que deve assumir responsabilidades no que se refere às atitudes que tenha em relação ao paciente. Esse ponto de vista, em que paciente é responsável por suas atitudes e o terapeuta pelas ações que visam curar ou modificar estados caracterizados como indesejáveis pelo paciente, é que faz com que a AT seja “(...) considerada como uma forma contratual de tratamento (...)” (STEINER, 1968:61-64)

Já no conceito de permissão o terapeuta assume um papel diretivo; a proteção é uma consequência lógica dessa permissão já que o terapeuta passa a apoiar temporariamente o paciente, que se encontra em estado de ansiedade e de vacuum existencial oriundos do “descumprimento” das “indicações parentais”; a potência traz em si o comprometimento do terapeuta em curar e tomar as atitudes necessárias para que essa cura possa se dar (confrontando, pressionando e/ou acolhendo o paciente, segundo a necessidade do momento).

Dessa forma, a AT desenvolve no indivíduo a possibilidade de desmontar o "quebra-cabeça", aqui denominado como script, e remontá-lo a seu próprio modo, libertando-se de “amarras” psicológicas e fornecendo ao cliente a liberdade necessária para alcançar o sucesso e desenvolver todas as suas potencialidades. Por mais amargo que possa parecer, deixou claro que grande parte da humanidade passa toda a vida “andando em círculos” e retornando ao ponto de partida. A Análise Transacional é sem dúvida uma ferramenta de transformação humana, individual, quanto à pessoa, e coletiva quanto à sociedade.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERNE, E. O que você diz depois de dizer olá. (2ª edição). São Paulo: Nobel, 2007.19-37.

________. Os jogos da vida. (3ª edição). Rio de Janeiro: Editora Artenova S.A., 1977. 19-60.

GINGER, A. GINGER, S. Gestalt uma terapia de contato. (4ª edição). São Paulo: Summus Editorial, 1995. 93-96.

STEINER, C. Os papéis que vivemos na vida. Artenova. Rio de Janeiro, 1976. 14-34.

domingo, 3 de julho de 2011

Dicas de como estudar - Aprendendo a aprender

O estudo é um trabalho que necessita de ferramentas capazes para facilitar o processo de aprendizagem.

Uma metodologia de estudo pode ser uma grande ajuda, pois, quando utilizada adequadamente, o aluno obtém sucesso.

Não existe um único método de estudon, nenhum método é ideal para todas as pessoas. Cada pessoa, a partir de sua personalidade, vai descobrindo a forma mais eficaz de aprender novos conteúdos.

É bom lembrar que todo assunto novo é aprendido por associação de conhecimentos anteriormente apreendidos, daí a importância de estar sempre em dia com suas tarefas.

É preciso, portanto, criar uma metodologia própria, conciliando estudo, lazer e outras atividades, sem esquecer algumas observações fundamentais:

Local:

Deve ser bem iluminado, bem ventilado e sem excesso de estímulos visuais ou sonoros.Separe bem seu local de trabalho do seu local de lazer.

Tenha sempre em mãos sua agenda e seu material didático.

Tempo:

Procure estudar num horário mais ou menos fixo, para que você crie o hábito de estudo.Não estude durante longas horas. Faça pequenas pausas.

Controle e respeite seu horário de estudo. Agindo assim, você evitará o cansaço provocado por tarefas e estudos intensivos de última hora.

Aulas:

Participe das aulas, fique atento, mantenha-se concentrado, anote os pontos mais importantes, pois isso vai ajudá-lo a visualizar melhor a matéria e facilitar a leitura e o estudo em casa.Procure tirar as dúvidas na aula. Evite acumulá-las.Estudar, realmente, é um trabalho difícil. Exige disciplina a qual se adquire a partir de uma prática.

Aproveite melhor suas horas de estudo de forma planejada, organizada e determinada.

Se precisar de ajuda, procure orientação com seus professores, coordenadores, psicólogos ou mesmo com seus pais. Esses podem ajudá-lo a organizar suas atividades e melhorar seus estudos.


Orientação de Estudo.

Você gosta de ler?

SIM ( )
Parabéns! Você tem a condição básica para elaborar um método de estudo adequado às suas necessidades.
Procure aproveitar a orientação de seu professores, pais, coordenadores, psicólogos e amigos que também gostam de ler.

NÃO ( )
Pense: ler é uma atividade básica para o estudo.
Procure descobrir assuntos de que você goste, valorizando qualquer tipo de fonte: revistas, jornais, internet, romances etc...

Estudar é aprender, leia e interprete com suas palavras tudo que está sendo lido.

O saber e a cultura são os bens mais preciosos de um indivíduo e de um povo. Vale a pena investir neles muito esforço pessoal, daí a importância de um bom método de estudo. O uso adequado desse método lhe proporcionará mais segurança no seu estudo, senso crítico mais apurado, melhor capacitação profissional, além de diminuir sua ansiedade frente às verificações, pois estudando um pouco a cada dia, você diminuirá a carga de estudo às vésperas das provas.

O método é um caminho que facilitará a realização e o êxito de uma atividade. Todo método deverá estar de acordo com a atividade e seus objetivos.

Foram elaboradas algumas sugestões que poderão ajudá-lo no seu estudo, tanto em sala de aula como em casa. Observe que tudo depende de sua participação e organização.

Use todos os sentidos:

A repetição estimula a memória. Procure prestar atenção às aulas, ler a matéria em voz alta, anotar informações mais importantes e discutir o conteúdo com os colegas. Com isso você grava as informações por meio de vários sentidos, facilitando o aprendizado.

Não espere a matéria acumular:

Esteja sempre com a matéria em dia. Se a matéria acumular, você vai ser obrigado a fornecer muitos dados à sua memória em pouco tempo. Desse modo, as informações não ficam retidas no cérebro e logo são esquecidas.

Adote o método das associações:

Crie associações entre aquilo que precisa aprender e fatos importantes da sua vida. Isso vai fazer com que você se lembre com mais facilidade do que aprendeu.

Procure, pois, criar o seu próprio método de estudo, preocupando-se com sua formação profissional futura, mas também com seu crescimento e desenvolvimento como pessoa, nos seus diversos aspectos: intelectual, cultural, esportivo, recreativo, religioso e sócio-afetivo. Lembre-se sempre de que não se aprende para a escola e sim para a vida!

Para que estudar?

Estudamos para melhorar nosso desempenho na vida escolar, nas avaliações, na vida profissional e, principalmente, para desenvolver a capacidade de pensar por conta própria.

Veja como você pode fazer para aproveitar melhor o estudo:

  1. Estudar mais a disciplina que menos gosta. Estudar aquilo que se gosta é prazer: trabalho é aprender o que parece difícil;
  2. Distinguir “não gostar do professor” com “não gostar da matéria”.
  3. O medo de tirar nota atrapalha no estudo. Não estudar por nota, estudar porque ficará diferente e melhor;
  4. Ninguém aprende nada sem se interessar. Procurar criar interesse. Uma pessoa inteligente descobre interesse nas tarefas mais enfadonhas;
  5. Caso esteja com problemas pessoais, não se culpar por não conseguir estudar. Procurar aconselhar-se com alguém;
  6. Não estudar com freqüência as matéria mais parecidas, uma pode atrapalhar a outra. Intercalar Português com Matemática, Física com História etc. A mudança de método é uma forma de descanso mental.
  7. Fazer da escola um lugar de orientação. Estudo mesmo é o que se faz por conta própria. Não coloque toda a responsabilidade pela compreensão de conteúdo nas mãos do professor, o máximo que ele pode fazer é orientar;
  8. Organizar um horário não só para estudos, mas para todas as atividades;
  9. Criar também um ambiente de estudo, não deixar que as circunstâncias atrapalhem o trabalho;
  10. Fixar o lugar e as horas em que estuda, isto ajudará a obter concentração e transformar-se-á em hábito.

FONTE: UNIFEV - Centro Universitário de Votuporanga