domingo, 30 de junho de 2013

Além das técnicas da terapia cognitivo-comportamental

No texto anterior falei sobre a terapia cognitivo-comportamental. Mas a abordagem não para por aí, existem muito mais informações a respeito dela. É uma abordagem rica e  que apresenta um resultado muito positivo no trabalho clínico. Diante disso, resolvi me estender um pouco mais e compartilhar com vocês esse texto que faz parte da minha monografia de conclusão de curso na especialização clínica em Terapia Cognitivo-Comportamental com ênfase em neurociência realizada no CPAF/UCAM RJ.
Muitos pensam que a TCC - terapia cognitivo-comportamental - é um amontoado de técnicas, de certa forma estão até certos, pois existem uma variedade de recursos disponíveis, mas não para por aí, não basta conhecer as técnicas e saber aplicá-las, é preciso estudo e aprimoramento constante por parte do profissional. Dessa forma, iniciando qualquer técnica na abordagem cognitivo-comportamental, é necessário que antes, o cliente perceba que ele, através de seus pensamentos disfuncionais é o responsável pelos problemas apresentados e não os outros como acontece na maioria das vezes. É muito comum jogarmos a responsabilidade para fatores externos (MCMULLIN, 2005).
            No primeiro encontro com o cliente é possível trabalhar essa questão através da técnica do A-B-C criada por Albert Elis. No qual, o “A” representa a situação e o “C” representa a consequência, ou seja, as emoções e os comportamentos. Essa é uma maneira universal de pensamento, mas é uma forma equivocada de pensar, pois o mundo externo não tem poder sobre nós. O responsável por nossos sentimentos está relacionado à nossa forma de pensar. Por isso, entre o “A” e o “C”, existe o “B” que representa nossas crenças que estão associadas à maneira de pensar, que podem ocorrer através de imagens, percepções, interpretações e fantasias (MCMULLIN, 2005).
            Parece fácil, mas nossos pensamentos são influenciados por um número extenso de processos internos, que muitas vezes já existem antes mesmo da situação “A” acontecer. Nossa maneira de perceber o mundo é um deles. Como falamos anteriormente, desde a infância vamos adquirindo uma série de aprendizagens que vão virando regras pessoais. Tais regras orientam nossas expectativas em relação a nós mesmos, ao outro e ao mundo. Quando estas expectativas estão fora da realidade, ocasiona um adoecimento, pois muitas vezes ou são inatingíveis ou viram obrigações na vida do individuo.
Outro ponto a levantar está no que o individuo acredita ser capaz de realizar, ou seja, sua autoeficácia.  Eficácia essa que precisa estar em equilíbrio, nem baixa e nem alta demais, se não sua realização fica comprometida. Tanto expectativas quanto autoeficácia formam o que chamamos de autoconceito. É ele que determina como o indivíduo atua na vida e também o que ele sente (MCMULLIN, 2005).
No caso da atenção, essa ocorre junto com a situação, ou seja, é ela que nos leva a perceber ou não o que ocorre. É como assistirmos uma cena de um filme, cada pessoa focará sua atenção em um determinado ponto. De acordo com McMullin (2005, p. 48) “O que nos afeta, no ambiente, é aquilo que nosso cérebro nos diz para prestar atenção”. Já a memória seletiva atua buscando experiências semelhantes já ocorridas na vida do individuo para assim, saber como agir diante do evento. Vale ressaltar que a memória não é exata, pois quando nos lembramos do passado, o recriamos de acordo com nossa percepção baseada no presente. Uma frase do escritor Gabriel García Márquez que retrata bem essa parte, diz o seguinte: “a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para conta-la”.
            Outra influência é a necessidade que o ser humano tem de atribuir uma causa ao que acontece a ele. Se esta causa não é encontrada, ele a cria, mas nem sempre condiz com o que realmente é, dificultando assim, resolver o problema.
Não nos damos conta, mas entre uma emoção e um comportamento, sempre avaliamos a emoção antes de agirmos. E quanto mais negativa a avaliação em relação à emoção sentida, mais baixa será a capacidade de tolerância do individuo. O que determina a motivação do individuo em relação à situação ocorrida é o tipo de avaliação que fazem da emoção, caso essa avaliação seja negativa, o individuo terá dificuldades em lidar positivamente com o comportamento. Além da avaliação, temos também o que é chamado autoinstrução, que atua da mesma forma que a anterior, mas funciona como um professor interno. A autoinstrução é a forma encontrada pelo individuo, ainda enquanto criança, de lidar com determinadas situações da forma que ele acredita ser a mais adequada. O importante é perceber que tipo de conteúdo essa voz passa e qual o contexto em que ele é aplicado. Por exemplo, se uma pessoa que visa mudar os hábitos alimentares, tiver um professor interno crítico que diz: “Não está adiantando nada a reeducação alimentar”, a pessoa pode acabar desistindo do objetivo de emagrecer; já uma pessoa com o professor interno muito permissivo, pode pensar: “não tem problema abusar dos doces no final de semana, afinal é só dessa vez”.
Outra que também costuma atuar junto é a cognição oculta, que o individuo dificilmente reconhece, pois atua extremamente rápido e como consequência acaba agindo como se não tivesse escolhas. O individuo acaba relatando o seguinte: “Estava tão ansiosa que acabei me entupindo de sorvete” (MCMULLIN, 2005).
            Além de todas as influências anteriores que o pensamento sofre, ainda tem o estilo explicativo que está relacionado com a percepção geral que o individuo tem acerca da situação. É a forma que o individuo encontra para explicar o ocorrido e que também serve para compreendermos como o individuo atuará em situações futuras. Segundo Seligman (1975,1994, 1996, apud MCMULLIN, 2005) existem três categorias de estilo explicativo pessimista:
ü  Interno x Externo
ü  Estável x Instável
ü  Global x Específico
Os três tipos considerados desfavoráveis são: o interno, que está relacionado com o próprio indivíduo, ou seja, responsabiliza a genética ou sua personalidade com o problema. O estável está relacionado ao tempo de permanência do problema, que é percebido como duradouro e o global que acaba percebendo a situação de forma generalista, não vendo a situação como algo específico.
Diante do que foi visto até o momento, fica claro que as técnicas não são receitas de bolo como muitos ainda acreditam. E que outros fatores devem ser levados em consideração na hora da aplicação de uma técnica, para que a mesma tenha o resultado esperado.


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