No texto anterior falei sobre a terapia cognitivo-comportamental. Mas a abordagem não para por aí, existem muito mais informações a respeito dela. É uma abordagem rica e que apresenta um resultado muito positivo no trabalho clínico. Diante disso, resolvi me estender um pouco mais e compartilhar com vocês esse texto que faz parte da minha monografia de conclusão de curso na especialização clínica em Terapia Cognitivo-Comportamental com ênfase em neurociência realizada no CPAF/UCAM RJ.
Muitos pensam que a TCC - terapia cognitivo-comportamental - é um amontoado de técnicas, de certa forma estão até certos, pois existem uma variedade de recursos disponíveis, mas não para por aí, não basta conhecer as técnicas e saber aplicá-las, é preciso estudo e aprimoramento constante por parte do profissional. Dessa forma, iniciando
qualquer técnica na abordagem cognitivo-comportamental, é necessário que antes,
o cliente perceba que ele, através de seus pensamentos disfuncionais é o
responsável pelos problemas apresentados e não os outros como acontece na
maioria das vezes. É muito comum jogarmos a responsabilidade para fatores
externos (MCMULLIN, 2005).
No primeiro encontro com o cliente é
possível trabalhar essa questão através da técnica do A-B-C criada por Albert
Elis. No qual, o “A” representa a situação e o “C” representa a consequência,
ou seja, as emoções e os comportamentos. Essa é uma maneira universal de
pensamento, mas é uma forma equivocada de pensar, pois o mundo externo não tem
poder sobre nós. O responsável por nossos sentimentos está relacionado à nossa
forma de pensar. Por isso, entre o “A” e o “C”, existe o “B” que representa
nossas crenças que estão associadas à maneira de pensar, que podem ocorrer
através de imagens, percepções, interpretações e fantasias (MCMULLIN, 2005).
Parece fácil, mas nossos pensamentos
são influenciados por um número extenso de processos internos, que muitas vezes
já existem antes mesmo da situação “A” acontecer. Nossa maneira de perceber o
mundo é um deles. Como falamos anteriormente, desde a infância vamos adquirindo
uma série de aprendizagens que vão virando regras pessoais. Tais regras
orientam nossas expectativas em relação a nós mesmos, ao outro e ao mundo.
Quando estas expectativas estão fora da realidade, ocasiona um adoecimento,
pois muitas vezes ou são inatingíveis ou viram obrigações na vida do individuo.
Outro
ponto a levantar está no que o individuo acredita ser capaz de realizar, ou
seja, sua autoeficácia. Eficácia essa
que precisa estar em equilíbrio, nem baixa e nem alta demais, se não sua
realização fica comprometida. Tanto expectativas quanto autoeficácia formam o
que chamamos de autoconceito. É ele que determina como o indivíduo atua na vida
e também o que ele sente (MCMULLIN, 2005).
No
caso da atenção, essa ocorre junto com a situação, ou seja, é ela que nos leva
a perceber ou não o que ocorre. É como assistirmos uma cena de um filme, cada
pessoa focará sua atenção em um determinado ponto. De acordo com McMullin
(2005, p. 48) “O que nos afeta, no ambiente, é aquilo que nosso cérebro nos diz
para prestar atenção”. Já a memória seletiva atua buscando experiências
semelhantes já ocorridas na vida do individuo para assim, saber como agir
diante do evento. Vale ressaltar que a memória não é exata, pois quando nos
lembramos do passado, o recriamos de acordo com nossa percepção baseada no
presente. Uma frase do escritor Gabriel García Márquez que retrata bem essa
parte, diz o seguinte: “a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente
recorda, e como recorda para conta-la”.
Outra influência é a necessidade que
o ser humano tem de atribuir uma causa ao que acontece a ele. Se esta causa não
é encontrada, ele a cria, mas nem sempre condiz com o que realmente é, dificultando
assim, resolver o problema.
Não
nos damos conta, mas entre uma emoção e um comportamento, sempre avaliamos a
emoção antes de agirmos. E quanto mais negativa a avaliação em relação à emoção
sentida, mais baixa será a capacidade de tolerância do individuo. O que
determina a motivação do individuo em relação à situação ocorrida é o tipo de
avaliação que fazem da emoção, caso essa avaliação seja negativa, o individuo
terá dificuldades em lidar positivamente com o comportamento. Além da
avaliação, temos também o que é chamado autoinstrução, que atua da mesma forma
que a anterior, mas funciona como um professor interno. A autoinstrução é a
forma encontrada pelo individuo, ainda enquanto criança, de lidar com
determinadas situações da forma que ele acredita ser a mais adequada. O
importante é perceber que tipo de conteúdo essa voz passa e qual o contexto em
que ele é aplicado. Por exemplo, se uma pessoa que visa mudar os hábitos
alimentares, tiver um professor interno crítico que diz: “Não está adiantando
nada a reeducação alimentar”, a pessoa pode acabar desistindo do objetivo de
emagrecer; já uma pessoa com o professor interno muito permissivo, pode pensar:
“não tem problema abusar dos doces no final de semana, afinal é só dessa vez”.
Outra
que também costuma atuar junto é a cognição oculta, que o individuo
dificilmente reconhece, pois atua extremamente rápido e como consequência acaba
agindo como se não tivesse escolhas. O individuo acaba relatando o seguinte:
“Estava tão ansiosa que acabei me entupindo de sorvete” (MCMULLIN, 2005).
Além de todas as influências
anteriores que o pensamento sofre, ainda tem o estilo explicativo que está
relacionado com a percepção geral que o individuo tem acerca da situação. É a
forma que o individuo encontra para explicar o ocorrido e que também serve para
compreendermos como o individuo atuará em situações futuras. Segundo Seligman
(1975,1994, 1996, apud MCMULLIN, 2005) existem três categorias de estilo
explicativo pessimista:
ü Interno x
Externo
ü Estável x
Instável
ü Global x Específico
Os três tipos considerados
desfavoráveis são: o interno, que
está relacionado com o próprio indivíduo, ou seja, responsabiliza a genética ou
sua personalidade com o problema. O estável
está relacionado ao tempo de permanência do problema, que é percebido como
duradouro e o global que acaba
percebendo a situação de forma generalista, não vendo a situação como algo
específico.
Diante
do que foi visto até o momento, fica claro que as técnicas não são receitas de
bolo como muitos ainda acreditam. E que outros fatores devem ser levados em
consideração na hora da aplicação de uma técnica, para que a mesma tenha o
resultado esperado.